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quarta, 23 maio 2018 16:37

VINHO = PRODUÇÃO PREÇO

Written by ARLINDO CASTRO DR.
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= PRODUÇÃO <COMERCIALIZAÇÃO > PREÇO

 

Não sendo duriense, estive profissionalmente ligado por mais de 3 décadas ao sector do Vinho do Porto, o que me permitiu conhecer algumas características dos lavradores.

Em primeiro lugar e porque muito me marcou na altura, devo realçar a postura de subserviência da Produção perante o Comércio. Não sei se ainda se mantém, mas devo confessar que, para mim, foi chocante essa experiência, pois não conseguia entender o motivo. Em finais do século XX e princípios do XXI, gente livre, com amplos conhecimentos sobre a vinha, o vinho e a região, não lidava com os seus clientes como seria suposto numa qualquer relação comercial. Parecia-me que, socialmente, o Douro ainda estava na época do feudalismo.

Outra questão, que também muito me surpreendeu, era a negociação do preço. Tirando uma ou outra vindima em que, pela escassez da produção de uvas, a negociação se adiantava, era “normal” o preço de venda das uvas só ser determinado em Janeiro seguinte à vindima. Digo “determinado” e não “acordado” pois, na generalidade dos casos, quem fixava o preço era o produtor de vinho, fosse comerciante ou ajuntador.

Outra ainda era o “prémio” atribuído à lavoura, já muito perto da vindima seguinte, pelo fornecimento do generoso na vindima anterior; sendo uma forma de “fidelizar obrigatoriamente” a produção, também muito me surpreendeu na altura.

Todas estas atitudes eram reveladoras do pensamento intuído da Lavoura: o Comércio “fazia o favor” de lhes ficar com as uvas!

Espero que tudo o que referi seja já História!

Seja assim, ou não, irei apresentar de seguida a solução que corresponderá  a uma “carta de alforria” da Lavoura duriense. Com efeito, este modelo criará uma relação inequívoca de interdependência e de equilíbrio no poder negocial entre as profissões.

Verdadeiramente não é uma nova apresentação, mas sim uma restauração (termo em voga no Douro!) duma organização já em tempos implementada, mas que, por motivos de política agrícola nacional, veio a ser alterada.

Mas, já que falamos de História, recordemos.

A uva começou por ser consumida, como um outro fruto qualquer, na alimentação humana; talvez por um feliz acaso – umas uvas amassadas, deixadas num recipiente, que fermentaram – foi descoberto o vinho. Tal teria ocorrido antes do aparecimento da escrita, dizem os cientistas com base nos vestígios encontrados há cerca de 8.000 anos, numa região da actual Geórgia.

Assim, o primeiro uso do fruto da videira, que ainda hoje perdura, foi o do consumo como uvas de mesa.

Se os lavradores do Douro vendessem actualmente todas as suas uvas, como fruta e a € 2,00 o quilo, provavelmente a produção de vinho nesta região seria residual.

Como tal não é o caso, a região teve de encontrar outras soluções para vender a sua produção, tendo daí resultado a transformação, da quase generalidade das suas uvas, em vinho.

E, no decurso da História, até foram encontrando formas diferentes de as comercializar. Com efeito, hoje, sabemos que daquelas uvas, e para além do seu consumo como fruto, são produzidos Vinho do Porto, Vinho de Mesa (seja DOC, seja Regional, seja mesa), Moscatel, Espumante, Vinagre e aguardente, tudo como destinos comerciais daquelas uvas, e também foram obtidos outros produtos, não comercializáveis directamente, usados como matérias-primas em muitos outros fins.

Todas estas utilizações tem sempre o mesmo objectivo: vender todas as uvas produzidas a um preço que compense o investimento realizado.

Esta constatação é muito importante para conseguirmos perceber a causa da crise que a região atravessa e, consequentemente, encontrar a solução para definitivamente a ultrapassar.

Como as manifestações desta crise estão mais do que divulgadas, por diversos operadores e organizações do sector, não as irei aqui abordar.

Então de que resulta principalmente a crise do Douro? Resulta do facto de não conseguir comercializar a preço compensador toda a sua produção de uvas, o que pode ser demonstrado pelo facto de anualmente haver sobras de produção. Já indirectamente, estas sobras mais prejudicam economicamente a região pois, para a lavoura conseguir vender a sua produção, é obrigada a reduzir o preço, mesmo abaixo do respectivo custo. Ou seja e para não perdermos o norte, a crise actual tem origem no facto de serem produzidas uvas sem destino comercial, a que chamaremos excedentes.

Prosseguindo nesta forma de abordagem ao assunto, então passemos a recordar as formas de regularização dos excedentes até agora usadas.

1 – Arranque da vinha

2 – Limitar a produção

3 – Escoar os excedentes destinando-os a outros fins comerciais

O arranque da vinha tem duas consequências graves. Por um lado, diminui a capacidade produtiva, e consequentemente a possibilidade de criação de riqueza, com reflexos sociais imediatos e, por outro, pode ser desastrosa em anos de fraca produção.

Limitar a produção tem sempre em vista um prévio destino comercial assegurado, como acontece, por exemplo, no Douro com o Vinho do Porto e no Champagne. Esta solução é eficaz quando a capacidade de produção instalada é pouco superior às vendas do produto comercial a que se destina, pois permite sempre cobrir os custos de produção com a venda dessas uvas, e assegura que não falta produção em anos de fraca colheita. Nos exemplos apontados, é óptima no Champagne mas ineficaz no Douro, como sabemos.

A terceira forma, foi a adoptada durante muito tempo quer na Região do Douro quer na própria União Europeia e, neste caso, não só para o vinho como para outros produtos agrícolas.

Mas será que, verdadeiramente, a RDD produz excedentes?

Conforme justifiquei em artigo anterior (A indissociabilidade dos activos da RDD), NÃO! Pelo contrário, a RDD escoa, em média dos últimos 10 anos, quase 150 mil pipas de vinhos de outras regiões, ou, dito de outra forma, a RDD comercializa anualmente 374 mil pipas (108 de mosto generoso, 70 de Outros e 196 mil pipas de vinho transformado em aguardente) e só produz 230 mil pipas.

Regressando ao início desta exposição, voltamos a perguntar: qual é o interesse económico da RDD?

A)     - manter os actuais volumes de venda dos produtos comerciais (Porto, DOC, etc), sabendo que tem de importar vinho já destilado para produção do Porto?

B)     - vender SEMPRE toda a sua produção de uvas, reduzindo os volumes de venda dos produtos comerciais à capacidade de produção que neste momento tem?

Se estiveram de acordo quanto ao interesse principal da Lavoura duriense – vender todas as uvas produzidas a um preço que compense o investimento realizado – só existirá uma resposta: fechar a região à importação de aguardente!

A esta mesma conclusão já chegou a CIM Douro, em estudo que em 2014 publicou, assim como o Conselho Interprofissional, em relatório que, em 2011, elaborou.

Texto extraído do Comunicado à imprensa da CIM Douro: “É opinião transversal de todos, que a causa da crise que o Douro atravessa resulta dos excedentes de vinhos sem denominação de origem que a RDD produz. Não tendo mercado para a colocação integral da sua produção, vê se “obrigada” a vendê-la a preços praticados por regiões vinícolas de muito maiores produtividades e menores custos de produção. Nada disto faz sentido no Douro. A produção de Vinho do Porto obriga a utilização de aguardente de origem vínica (agora, vitícola) e esta está a ser importada, servindo o Douro para escoar os excedentes de outras regiões”

Texto extraído do Relatório do CI: “No cenário claramente mais optimista e, potencialmente, irrealista, em que consideramos que 25% das vendas abaixo dos 3,87€ por garrafa possam ser recuperadas, isto é, conseguíamos convencer os consumidores a pagar praticamente o dobro do que pagam actualmente, aí as perdas da RDD em função das menores vendas de Vinho do Porto seriam compensadas com as vendas de vinho de mesas para destilação”. Este cenário, dito irrealista, corresponde a uma quebra na comercialização de Vinho do Porto de cerca de dois terços do actualmente realizado, ou seja, passar das 138 mil pipas actualmente comercializadas para 50 mil pipas anuais…

Sendo assim tão claro, para tanta gente, a exequibilidade desta solução, por que motivo não foi prosseguida (7 razões)?

1ª. ignorância, por desconhecimento do assunto.

2ª. receio ou cobardia:

A – política (é mais fácil negociar com os economicamente fortes, enquanto a contestação dos mais fracos for controlável).

B – por dependência (retaliações por parte dos economicamente mais poderosos)

3ª. interesse económico directo e legítimo, pois:

A – enquanto houver benefício, a lavoura, independentemente do que produzir, sabe que irá receber, pelo menos, o valor desse título;

B – enquanto forem produzidos excedentes vínicos na RDD, os comerciantes de vinhos conseguem adquiri-los a um preço inferior ao do respectivo custo e comercializá-lo a um preço semelhante ao de outras regiões vínicas (com produtividades muito mais elevadas e reduzidos custos de produção);

C – vai permitindo também aos comerciantes e exportadores, já instalados no sector, ir adquirindo propriedades a muito baixo preço, de forma a assegurarem no futuro a produção própria das suas necessidades comerciais.

4ª. interesse económico directo e ilegítimo (infelizmente também aqui acontece!)

Por fim e por esta exposição ser destinada à Lavoura e por já me ter sido colocada a questão, convém aqui fazer uma referência especial ao receio demonstrado quanto à formação do preço do vinho destinado à destilação.

A alteração legislativa que determinará o uso exclusivo de aguardente regional para o fabrico do Vinho do Porto irá ter como consequência imediata a diminuição da quantidade do benefício na vindima seguinte. A equação que até aqui determinava o cálculo do benefício só tinha em linha de conta o volume de vendas (processadas e previsíveis) e o das existências na posse dos operadores, mas, a partir desta alteração, uma nova variável – produção regional de vinho – passará obrigatoriamente a ser considerada. Isto porque , sendo esta produção insuficiente, como vimos, para satisfazer o mercado comercial existente, o volume do benefício terá de ser ajustado de forma a permitir também a produção do DOC, Moscatel e Outros e da aguardente necessária para a produção do Porto.

Também a nível da clientela irá surgir uma nova figura de operador interessado em adquirir vinho para destilação. Poderão ser os próprios operadores já existentes, directa ou indirectamente Comerciantes de Porto, ou simplesmente destiladores que, com o know-how já adquirido, passarão a ter acesso a um mercado fechado muito interessante, pois toda a produção que fizerem de aguardente regional estará sempre vendida.

Ou seja, o Douro assemelhar-se-á a um vendedor de água no meio do deserto onde passam caravanas: produção escassa para uma clientela sequiosa!

Assim, podemos afirmar que o preço a que o vinho (ou as uvas) será vendido corresponderá, no mínimo, ao custo que a lavoura teve de suportar para conseguir obtê-lo. A concorrência entre a Lavoura – melhor qualidade de uvas e menor custo de produção – ajustará definitivamente o preço de venda da produção de cada viticultor.

Arlindo Castro - 3 de Maio de 2018

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